terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Monstrinho



Às vezes eu gostaria de voltar no tempo e não ter feito certas coisas que já fiz. Ou às vezes gostaria de não ter nascido de uma vez por todas.
Às vezes gostaria que alguém se apaixonasse por mim, mas depois me lembro de que embora eu seja fria e calculista não sou tão egoísta ao ponto de querer judiar de alguém de novo.
Muitas vezes eu canto músicas com as letras erradas de propósito só para saber que erro mais que os outros e poder, assim, me aumentar meu balde de erros (alguns imperdoáveis).
Quando não tem ninguém vendo, eu dou risada para ouvir o som do meu ‘riso’ e poder admirar o que quase ninguém ouve.
Ao contrário dos outros cromossomos XX eu assisto comédias românticas para dar risada do que não existe e assisto filmes de terror porque tenho medo que possam ser realidades que desconheço.
Eu só sei rezar “Ave Maria” e quando minha mãe me pede para rezar por alguém, por ela ou por mim, é nela, minha mãe, que eu penso.
Eu tenho uma saúde invejável, mas nos últimos meses não consigo me manter sadia por mais de dois dias. Por outro lado minha sanidade é baixa e eu passo mais tempo em devaneios (muitas vezes assustadores) que na minha realidade.
Mais uma vez me diferenciando do meu cromossomo eu não gosto de joias. As joias mais valiosas que eu tenho são um anel de prata com marcassita e uma pulseira de prata.
Eu amo animais e sei que muitos gostam de mim, mas às vezes não consigo tolerar muitas pessoas e minha sinceridade faz com que eu tenha poucos amigos.
Quase nunca me olho no espelho porque não gosto do que ele reflete (seja gorda, magra, banhada ou suja, as imagens sempre são más para meus olhos).
Eu leio muitos livros e assisto filmes para poder escapar da minha realidade, lembranças e pensamentos.
Enfim... Depois de descrever esse monstro, às vezes seria melhor nem ter nascido.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O fim está próximo



O fim do mundo está aí! E você? Já comprou seu terreninho no céu? Já correu pelado(a) pelas ruas? Já se declarou para a pessoa amada?
Ainda não? Então corra porque o fim está próximo.
Está na hora de comprarmos tudo nas Casas Bahia e dividirmos a perder de vista. Afinal de contas, só poderemos pagar a primeira parcela.
Está na hora das moças que se mantiveram virgens até seus casamentos ou casarem hoje ou arranjarem um louco para desflorarem suas rosas.
Não podemos perder tempo ensinando as crianças sobre reciclagem, bons modos, nem a ler e nem escrever. Elas não terão tempo para isso. Deixe que o caos reine por sua casa e quintal com aquele bando de diabinhos correndo sujos e com nariz escorrendo.
Aos apostadores da Loteria, tenho pena do último ganhador. Não poderá desfrutar de uma vida de luxúria, prazeres e causar inveja no vizinho.
Aos pecadores... Melhor começarem suas listas de Earl, ou não terão tempo de se redimir de todos os pecados e talvez nem todas as Ave Marias e Pais Nossos possam te salvar.
Aos que esperavam ver Mercenários III, talvez tenhamos a chance de encontrar o Stallone para aonde formos...
E para aqueles que esperavam pela volta do Salvador, sinto muito informá-los, mas a não ser que ele seja uma bactéria, um vírus ou sei lá, nunca chegará à fase adulta a tempo.
O fim do mundo está aí... E você leitor se pergunta porque eu decidi escrever esse absurdo.
Eu escrevi porque o fim está próximo! Eu li um texto estúpido essa madrugada no qual um cara mais estúpido ainda incitava seus seguidores a fazerem loucuras porque o mundo estava para acabar. Ao contrário de mim, ele estava falando absurdamente sério.
A pior parte não foi ler o que estava escrito e sim ver as repostas concordando e enaltecendo o paspalho.
Gostaria muito de ver a cara dessas pessoas no dia seguinte pós fim do mundo.
Gostaria mesmo de ver aqueles que compraram terrenos no céu processarem as instituições religiosas. Aqueles que gastaram tudo...
E ainda tem gente que tem coragem de dizer que a “Ignorância é uma benção”?

Se este for mesmo meu último post, leitor, obrigada pela visita e descanse em paz.

HÁ-HÁ-HÁ!


domingo, 21 de outubro de 2012

Casquinha de Ferida


Eu comecei 2012 de uma forma diferente do que estava seguindo de 2010 e 2011. Comecei o ano servindo de pilar para uma pessoa que havia passado por um grande baque emocional. Pessoa que viu seus melhores amigos agirem de forma egoísta enquanto ela, a pessoa, lutava bravamente para se reerguer do susto. Fiquei muito próxima dessa pessoa e “arrastava-a” comigo a todos os lugares que eu ia. Deixei de sair com alguns rapazes aí para fazer-lhe companhia e confidenciei e fui confidente dos momentos mais difíceis de nossas vidas.
Infelizmente, depois que o sorriso (verdadeiro) voltou às faces dessa pessoa, comecei a notar certa diferença em como eu era tratada e, cansada de grosserias e atitudes maldosas, eu me afastei um pouco para voltar à minha vida.
Não me arrependo de ter cedido meu tempo, aberto meus braços e coração para acolher uma pessoa em necessidade. E não faria diferente se soubesse que os resultados seriam esses mesmo. Na verdade, eu já previa que seria assim, e apenas subestimei meus pressentimentos.
Mas o motivo por esse post é porque essa semana eu estava almoçando com um amigo que fez a seguinte observação a meu respeito “Você é a pessoa mais difícil com quem eu tive que aprender a lidar até hoje”.
Pois é... E sabendo disso não fiquei brava com ele. Eu realmente sou uma pessoa extremamente difícil de lidar. É fácil admitir que sou a melhor amiga dos meus melhores amigos, melhor conselheira nas horas difíceis e o melhor abraço quando precisam. Mas também sei que eu sou binária. Aonde 0 e 1 regem as minhas atitudes. Nunca gostei do ‘talvez’ e, embora tenha sido difícil lidar com ele sempre, eu ainda prefiro (e às vezes forço) o ‘sim’ ou ‘não’.  Nunca fingi gostar de algo para agradar aos outros, não consigo fingir que gosto das pessoas para que eu seja aceita num grupinho e não tenho problema nenhum em ficar sozinha em casa ou ir a algum lugar sozinha porque não tenho companhia.
Eu entendo que as pessoas têm necessidades de serem aceitas em grupos e que precisam da aprovação dos membros do grupo para fazer parte dele. Mas eu acho que não pertenço a nenhum grupo. Não pertenço a um coletivo. E ainda admiro algumas pessoas (algumas mesmo, não todas) que têm a capacidade de fazer malabarismo com suas personalidades para estar presente em diversos grupos (não estou chamando essas pessoas de falsas, longe disso – estou me referindo às pessoas que têm a força de vontade e sangue de barata de atuar certas coisas para pertencerem e desfrutarem e se privilegiarem e  benefícios do convívio em grupo).
Não é participando da sua festinha de aniversário, churrasco ou almoço que me fará sua amiga. É o quanto estamos, você e eu, dispostos a nos aturar enquanto estivermos um perto do outro. Poucas pessoas conseguem me aturar e eu menos ainda.
Dito isso, eu venho ressaltar que apenas poucas pessoas têm torcido pelas minhas vitórias. E por se tratarem de um grupo bem restrito, também restringi apenas à essas pessoas o direito de saberem os próximos passos da minha vida. Minhas próximas jornadas e minhas loucuras (não se pode ser psicóloga sem diploma em tempo integral, às vezes é preciso estar do outro lado da sala).
E você, caro leitor, pergunta-se o que primeiro trecho desse post tem a ver com o fato de eu ser uma pessoa difícil de se lidar? Simples: Embora eu seja uma “casquinha de ferida” nunca passei por cima dos sentimentos de ninguém para sobrepor os meus. Sou humana e por isso também sinto, gosto, também sofro e também adoro. Comecei 2012 com um senhor baque. Você ficou sabendo? Pois é... ninguém soube. E sem ajuda de ninguém eu me superei. Acho que todos deveriam ser como eu? De jeito nenhum, é extremamente doloroso não conseguir se abrir para alguém e ter que se superar sozinho. Considero demais aquelas que conseguem expor tudo o que sentem, exteriorizam suas dores em lágrimas e que, em momentos de raiva, odeiam tudo e todos para que depois possam reparar seus erros e filtrar quem entra e quem sai dos seus corações.

Boa Semana, caro leitor.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Clubinho do Contra


Modernização da vida foi até os momentos mais felizes das pessoas.
Essa semana percebi na assinatura de um colega a seguinte frase Happiness is only true when shared.
E sem sombra de dúvidas é verdade. Antigamente, quando visitávamos a casa de alguém a pessoa já vinha com aquela caixa de papelão cheia de álbuns de fotografias para te mostrar. Essa continua sendo a arma mais eficaz das mães e sogras contra seus filhos. É a forma que elas têm de dizer “Quer dizer que me deram trabalho e foram mal educados quando pequenos? Está aqui meu troco”. É vergonhoso, porém os amigos e namorados adoram ver esses vexames da nossa vida porque sabem que em suas casas a punição é igual.
Pois bem... ninguém mostra um álbum para um inimigo. Se alguém te mostra suas fotos é porque quer dividir com você essa felicidade. Do peixe que pegou, da volta de bicicleta ou da tia bêbada no churrasco de família.
Tendo dito isso, vamos passar para o tema desse meu post: O facebook vs. Sua felicidade compartilhada;
O facebook, atualmemte, é a maior rede social do mundo e baseando-me nisso, posso dizer que lá encontram-se seus amigos, parentes, colegas, pessoas dispensáveis e as que estão lá para você fazer média.
Ou seja, quando vejo algum amigo postando fotos da sua família, filhos ou animais de estimação, tenho certeza que essas fotos são direcionadas às pessoas que ele mais gosta. Ele quer mostrar o quanto está feliz na companhia deles. O mesmo acontece quando as pessoas postam fotos de suas baladas, bebidas, comidas ou ingressos de shows.
Da mesma forma que às vezes vejo postagens que fazem menção à parentes, amigos ou animais que já se foram. É a forma que as pessoas têm de eternizar (mesmo que por alguns segundos) sua saudade. É respeitoso, compartilho da dor e sei exatamente como se sentem.
Passando para um lado mais pessoal, eu aprecio quando vejo postagens de amigos colegas nas quais se veem belas fornadas de pão de queijo, bolos saborosos ou garrafas de cervejas. E também gosto de dividir minhas panquecas com brigadeiro, bolinho de chuva com Nutella ou cervejas “chiquetosas” com os mesmos. Repito, compartilho para amigos e colegas apenas.
Hipócrita é aquele que vem comentar ou curtir suas fotos de guloseimas, animais ou filhos e logo em seguida compartilham postagens com os seguintes dizeres “E se eu te dissesse que você pode comer sem compartilhar no facebook?“ , “Obrigada por atualizar seu facebook com sua comida” ou aquelas frases falando mal sobre os animais de estimação e pivetes catarrentos. Pior ainda é saber eles conseguem mais hipócritas que curtam seus posts. Para mim isso é um tiquinho de inveja, sabia? Por não terem um animalzinho companheiro para afagar, um belo prato de Ravioli bem feito e com carinho ou um ser para amar e chamar de seu. Para essas pessoas tenho apenas uma dica: bloqueie os meus posts e dos seus amigos. Pronto!
Finalizo meu post dizendo que para tudo é necessário balanço. O clube dos contra nunca estará sozinho. E concordo que algumas pessoas exageram em suas postagens no facebook. Claro, até eu me chateio com excesso de comida, unhas coloridas, fotinhos da cachorra como modelete ou aquela massinha catarrenta vestida com vários macacões. Deve existir um balanço. Mas se eu fosse balancear, teria que barrar postagens fanáticas religiosas, homofóbicas, super protetora dos animais, super protetora das crianças com Câncer no Amapá e de enfermeiras assassinas de animais. Muita coisa. Portanto, peço apenas que use a feature “esconder” e seus problemas estarão resolvidos!
Obrigada por ler até o final e Obrigada por curtir minhas aventuras culinárias, cervejeiras e da Brigitte & Penélope. E para você que está torcendo a fuça ao ler esse post, não se chateie. Apenas me bloqueie (ou me exclua do seu facebook de uma vez) pois é muito provável que eu já tenha bloqueado suas postagens.



domingo, 12 de agosto de 2012

O que dizem por aí


Eu poderia estar escrevendo sobre a maravilhosa viagem que eu fiz para Curitiba durante minhas férias. Mas o texto ainda está no forno e logo vou publicá-lo para ninguém ler.
Mas eu tive que dar uma pausa na narrativa da viagem para escrever esse aqui... Porque tem algo me matando, comendo por dentro e eu preciso falar. Quero falar sobre as coisas que eu ouço por aí e fazem com que os pelinhos da nuca se arrepiem.
Começando pela campeã de arrepios “Desencanada”.
Quando uma pessoa se define como “desencanada” eu corro. O que uma pessoa sensata quer dizer com isso? Que o seu sistema de encanamento não funciona corretamente e que ela faz xixi e coco pelo mesmo cano?
Dizem por aí que “desencanada” é sinônimo de pessoa desapegada, sem preocupações... é um hippie, é isso? Que usa calça Lee, camiseta Coca-Cola e tênis da Nike.
Eu acho que é o tipo de gente que ouve o CD do Coldplay ou Radiohead e põe para repetir todas as músicas ao término.
Eu diria, cuidado, hein? Do mesmo que você é desapegado, as pessoas se desapegam de você. Já dizia Mario Quintana que “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Se não preserva o que tem, não pode exigir que fiquem.
Outra coisa que eu acho engraçado, para não dizer irritante, é extravasar. Quem extravasa além da Ivete Sangalo?
Geralmente extravasar vem associado a qualquer coisa que está fora do seu ambiente comum. Por exemplo, “vamos viajar para Indonésia para extravasar”, ou “vamos naquela balada em Vitória do Parnaíba para extravasar”.
Quando eu ouço um rapaz dizer isso, imagino que seja porque ele quer sair catando geral mas sem ter fama de safadão. Vai lá para ‘ponte que partiu’ e exagera em tudo que pode e tem direito (ou não) e ainda sim mantém a imagem angelical que todos adoram.
Na maioria das vezes que ouvi uma mulher dizer que quer extravasar, é porque queria encher a cara e sair dando a rodo, mas ainda manter a imagem de santa (do pau oco) no seu ambiente familiar e de amigos e manter as aparências.
Não sei por que, mas sou contra isso. Eu acho que manter essa identidade dupla só te faz uma pessoa de mau caráter. Vai saber mais quantas personalidades essa pessoa adquire com os anos.
Eu não acredito numa pessoa que diz que “não tem histórias para contar”, ainda mais se a pessoa se diz vivida. O que passa pela minha cabeça é que essas pessoas têm sim histórias para contar, porém são tão obscuras ou causam tanta vergonha que precisam ser mantidas a sete chaves lá em Santa Rita do Passa Quatro.
Além disso, se você não pode ser você mesmo na frente dos que te cercam, que bosta de vida a sua, hein? A feiura das ações está na sua cabeça. Deixe-me explicar melhor: Se você acha que algo legal, lícito e com moralidade é feio, então é muito provável que seja apenas sua opinião te censurando.
Quer ver outra coisa tirar do sério? Quando você pede a opinião de alguém sobre determinado lugar e a primeira coisa que recebe como resposta é “Muito caro”. Geralmente quando você pergunta sobre algum lugar é porque quer saber se o ambiente é agradável, tem um bom atendimento e por fim se o preço é acessível. Mas tomar um corte desse é chato demais.
Também concordo que eu, na minha condição de pobre, não vou sair por aí acendendo charutos com notas de cem dólares ou pegar o coco da minha cachorra Brigitte com notas de dez reais (ela faz muito coco. Pegá-los com dólares sairia caro até para o Bill Gates), mas às vezes é interessante conhecer lugares novos e ver novos rostos. E, às vezes, para isso precisamos pagar um pouco a mais. Então, caro (a) leitor (a), quando alguém te perguntar sobre um lugar responda o que você acha do lugar, e por fim, opine sobre o preço. Mas começar e fechar uma descrição como “Muito Caro” é para aborrecer.
E para encerrar esse manifesto contra o que dizem por aí, volto a repetir que a Feiura está na cabeça de quem vê, fala ou faz. Não existe coisa feia a não ser que você ou um juiz ache. O fato de você viver sua vida da sua maneira, fora de padrões, grades ou estilo não quer dizer que você precisa ser julgado. Apenas firma minha teoria que quanto mais de bem consigo, mais pessoas te seguem porque elas se sentem bem ao seu lado, querem puxar (de forma boa) essa energia boa e vibrante que você transmite.
Um beijo para meus leitores fiéis (se é que ainda estão por aí). E um “olá” para os primeiros visitantes.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Bairro Solidão


Um belo dia surgiu uma casa num Bairro chamado Solidão. Nessa casa havia três habitantes, dois deles eram duas moças baixinhas. Uma se chamava Preguiça e a outra se chamava Angústia. O terceiro habitante era um rapaz muito alto e forte chamado Orgulho.
A Preguiça e a Angústia, embora quase nunca andassem juntas, eram boas colegas. Porém Orgulho era extremamente altivo e nunca se aproximava de ninguém, nem mesmo de suas colegas de casa.
A Preguiça, sempre na dela, passava maior parte do dia dormindo, alheia ao que acontecia ao seu redor. Quase nunca se atentava ao que lhe diziam e, por causa dessas suas atitudes, passava muitas horas se alimentando de tempo livre. Consequentemente Preguiça começou a engordar muito.
A Angústia era a menor de todos na casa. Quase anã. Muito tímida e deprimida andava pelos cantos da casa chorosa. O motivo para sua tristeza é que quando ela era mais nova  alguém lhe disse que no dia que ela conhecesse o Amor seus problemas se resolveriam. Por conta disso, a Angústia sonhava dia e noite quando iria conhecer o Amor.
Ela mantinha, bem guardado no seu âmago, uma série de coisas que diria ao Amor quando o conhecesse. Pensava como seria seu encontro com ele, como se portariam um na presença do outro e como sua tristeza iria embora.
E, embora a Angústia tentasse esconder sua espera pelo Amor, todos na casa sabiam desse sentimento da Angústia, e cada um lidava com ele de forma diferente. A Preguiça vivia dizendo para a Angústia largar a mão de ser boba e ir deitar-se com ela ao sol. Também dizia que esperar por alguém que ela não conhecia e nem sabia se realmente existia era loucura e que dava muito trabalho.
A Angústia às vezes deitava-se com Preguiça ao sol, mas sua cabeça estava longe pensando como reagiria se um dia o Amor batesse na porta da frente da sua casa.
E o Orgulho, sempre distante, fresco demais, tratava a Angústia como lixo. Dizia que nunca deixaria ninguém se aproximar da casa dele.
Um detalhe importante é que o único habitante da casa que mantinha relações externas era o Orgulho. Infelizmente, por causa do seu jeito arrogante de agir, eles sempre iam embora. Pela casa já passaram Amigos, com os quais o Orgulho brigou devido ao seu ego, Parentes, os quais ele expulsou de casa porque achava que não precisava mais deles, e qualquer um que tentasse se aproximar dele.
Uma vez, os Amigos foram visitar o Orgulho e, ao perceberem a Preguiça deitava com sua enorme figura relaxada ao Sol e a Angústia baixinha encostada na parede tentando se esconder, tentaram animar as duas mocinhas e trazê-las para roda aonde se encontravam Amigos e o Orgulho. E mais uma vez o Orgulho afastou-os de suas colegas de casa e expulsou os Amigos de lá. Eles nunca mais voltaram a se ver.
Os anos foram passando e a Angústia cresceu um pouco, tornou-se uma mocinha bem maior do que era e às vezes aparecia na janela, mas sua figura assustava os outros que passavam pela rua do Bairro Solidão. Seu aspecto abatido, olheiras profundas devido às noites em claro chorando pela visita do Amor que nunca vinha, não eram agradáveis de ver.
O Orgulho também ficou maior e mais forte com o passar dos anos. E arranjou uma companheira que era tão presunçosa quanto ele. O nome dela era Vaidade. Uma moça linda, com excelente porte. Andava impecavelmente arrumada e sempre que podia admirava sua bela aparência em qualquer objeto que refletisse sua imagem. A Vaidade também se relacionava com suas colegas: a Luxúria, a Inveja e a Maldade. Nem sempre estavam juntas, porque às vezes a Vaidade não gostava da presença dessas três.
E quando as quatro estavam juntas, faziam com que a Vaidade se sentisse mal e, às vezes, não tão bela quanto ela realmente era. Embora a Luxúria, a Inveja e a Maldade nunca visitassem a casa no Bairro Solidão, elas influenciavam a Vaidade que às vezes aparecia por lá para dar o ar da graça.
O Orgulho e a Vaidade não andavam juntos no começo, mas quando estavam juntos eram insuportáveis ao ponto de afastar as pessoas que passavam pela calçada da casa.
E por fim a Preguiça, que foi a que mais sofreu com as ações do tempo. Ela engordou demais. Não conseguia se mover para fazer nada e sempre precisava de ajuda. O Orgulho, como sempre, se afastou deixando-a de lado. Sendo assim, sobrava para a Angústia que sempre estava cuidando da colega e passava mais tempo com a Preguiça.
Mais um tempo se passou e o Orgulho e Vaidade começaram a passar muito mais tempo juntos. Tanto que ela se mudou para a casa no Bairro Solidão. Logo de primeira já se percebia que as três moças não tinham nada em comum. A Preguiça e a Vaidade brigavam por espaço. A Angústia e a Vaidade brigavam porque a segunda achava errado esperar pelo Amor.
O Orgulho nunca participava dessas brigas. Ele achava que não poderia perder tempo com os outros. Passava o dia malhando e triplicando de tamanho.
Até que um dia o Amor apareceu na porta da casa do Bairro Solidão. Ele entrou pela porta da frente e viu a Preguiça, muito grande, deitada no sofá. Essa, por sua vez, não lhe deu atenção para evitar a fadiga.
O Amor começou a andar pela casa, à procura da Angústia, que estava escondida em seu quarto chorando. O Amor encontrou a Vaidade e o Orgulho e lhes disse que procurava a Angústia para acabar com seu sofrimento.
A Vaidade olhou-se de cima a baixo e disse ao Orgulho que achava que ele não merecia entrar na casa. Comentou, de forma clara, que ele não era suficientemente lindo, rico e altivo para estar perto dela. O Orgulho, extremamente forte, concordou e expulsou o Amor da casa.
O Amor ainda relutou para sair e do lado de fora gritava pela Angústia, mas o Orgulho era tão grande e tão forte que tapava a vista das janelas e a Angústia achava que estava apenas fantasiando que ouvia o Amor, já que nada via quando olhava para fora.
E então, o Amor foi embora e nunca mais voltou. Algum tempo depois ele parou em outra casa em outro bairro aonde foi muito bem recebido.
Enquanto isso o tempo foi passando na casa do Bairro Solidão, a Vaidade cansou-se e foi embora, a preguiça ocupava muito espaço e o Orgulho, assim como as estruturas da casa, começou a se despedaçar porque nunca mais teve companhia nenhuma.
A Angústia por outro lado, cresceu bastante. Não podia mais ser chamada de baixinha pelos outros habitantes da casa. Ela, por sua vez, cuidava de tudo dentro da casa.
E o Orgulho, não tão mais forte e grande quanto antes, deixou que a Sabedoria viesse morar com eles. A Sabedoria fez com que a Preguiça emagrecesse um pouco e a Angústia se alegrasse. Deu-lhes livros para lerem, filmes para assistirem, levava as duas moças ao Teatro, cinema e museus.
Ensinou as moças a fazerem artesanato, praticavam esportes e dança.
Sabedoria, com o tempo, foi reinando na casa e a Angústia, embora ainda sonhasse com a chegada do Amor, sentia-se mais confortável na presença da Sabedoria. O Orgulho não mais podia bater de frente com a Sabedoria porque sabia que sempre iria perder. Às vezes ele tentava entrar em contato com a Vaidade que, mesmo depois de todos os anos que se passaram, continuava linda, mas a moça dizia que ele estava velho demais para ela.
E, como o tempo é inimigo de tudo e todos, ele passou pela casa do Bairro Solidão. O Orgulho tinha ficado tão fraco que morreu. A Preguiça quase não se mexia mais. A Sabedoria foi ficando fraca também. E a Angústia, por sua vez, mantinha-se como podia na casa que não parecia mais uma casa. Estava mais para um barraco esburacado que uma casa. As paredes caiam aos pedaços, as portas mal se abriam e as janelas não tinham mais vidros para protegê-los.
Até que um dia a casa não aguentou mais e cedeu. A Sabedoria foi embora um pouco antes da casa desabar. A Angústia e a Preguiça ficaram lá dentro e se foram junto com a casa.
No Bairro Solidão, outros terrenos encontravam-se vazios, uns com casas novinhas e uns com casas velhas. E embora o bairro levasse esse nome triste, ele nunca estava inabitado. Todos os dias surgiam novas casas com diferentes habitantes. E embora esses habitantes fossem vizinhos, nunca conseguiam formar uma comunidade porque sempre havia atritos entre um ou mais morador de cada casa.
Algumas casas do Bairro Solidão tinham a sorte de mudar-se para outros Bairros: Sucesso, Felicidade ou Alegria. E outras, mudavam-se para os Bairros das Dores, das Saudades ou do Medo.
Enfim, aqui termina uma breve estória que retrata exatamente o que acontece em diversos bairros em todos os lugares.